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  • Foto do escritorPrikaju Ateliê

Por que a minha bolsa descascou?

Atualizado: 25 de ago.

Desde que iniciei a postar as bolsas que eu estava confeccionando, diversas pessoas têm me procurado na tentativa de “recuperar” uma bolsa ou até mesmo uma peça de vestuário que esteja descascando.

Inclusive, algumas dessas pessoas vêm a mim com a frase feita: -“Minha peça de couro está descascando, saindo toda a pele. Você conserta???”

Mas, para tratar esta questão, que por muitas vezes torna-se delicada pois muitas dessas peças têm um valor sentimental, é necessário esclarecer alguns pontos.

O primeiro deles é que qualquer peça em couro legítimo NÃO descasca. O couro tende a ressecar e, por isso deve ser hidratado de tempos em tempos porém, descascar jamais.

Desta forma, qualquer peça que esteja descascando provém de matéria-prima SINTÉTICA e, neste quesito também temos que fazer algumas ressalvas.

Todas as bolsas da PRIKAJU, são atualmente confeccionadas em couro legítimo bovino, o que confere maior durabilidade e resistência a peça quando comparado com o sintético.


Bolsa recebida em meu ateliê. Havia sido comprada como couro legítimo e, após 1 ano de pouquíssimo uso, começou a degradar-se.


O que é o material sintético usado nas bolsas?

Os sintéticos utilizados como matéria–prima na indústria das bolsas são materiais laminados, ou seja: uma lâmina de plástico é aplicada sobre uma base que pode ser tecido, não-tecido, malha ou microfibra.

Como vantagens gerais, os laminados sintéticos apresentam uniformidade (tanto de espessura, quanto aparência e cor), melhor aproveitamento, menor preço, maiores opções de acabamentos e possibilidade de corte em camadas (o que diminui o tempo gasto na etapa do corte, consequentemente diminuindo o custo da produção).

Por outro lado, os laminados sintéticos apresentam dificuldade de reparo e apresentam menor resistência à tração, quando comparados ao couro.


Quais os tipos de laminado sintético para bolsas?

Existem duas variantes de laminados usados para a fabricação de bolsas: o PU e o PVC.


PVC

O PVC (policloreto de vinila) é um dos polímeros sintéticos plásticos mais produzidos no mundo e é obtido 57% de insumos provenientes do sal marinho ou terrestre (salgema) e 43% de fontes não renováveis (petróleo, gás natural), podendo essas serem substituídas por derivados do petróleo e de álcool vegetal.

Na indústria de bolsa, quando aplicado de forma laminada sobre uma base e compactado, possui um filme de cobertura mais espesso que a base, é geralmente mais opaco e não resiste a temperaturas superiores a 90C. Mas diferentemente do PU, o PVC tem como principal característica ser um material de longo ciclo de vida.

Além disso, com a adição de plastificantes, pode se tornar muito resistente aos diversos climas, sendo muito usado na fabricação de casacos, sapatos, jaquetas, equipamentos de esqui, entre outros.

O PVC é 100% reciclável, sendo os processos de reciclagem química mais adequados por permitirem a remoção do cloro. Porém, no Brasil, o processo mais utilizado é a reciclagem mecânica, que consiste na combinação de alguns processos operacionais (moagem, aglomeração, granulação) para o reaproveitamento do resíduo plástico, transformando-o em grânulos que são usados como matéria prima para fabricação de outros produtos.



PU

O PU (poliuretano) é um material proveniente do petróleo cujas características envolvem uma cobertura com bom brilho, com toque macio, boa elasticidade, aceita bem a estampagem, possui uma cobertura mais fina do que a base e é resistente a temperaturas de até 120°C e tem um custo menor que o PVC.

Porém, o PU pode sofrer degradação, ou seja, descascar, por dois principais fatores:

A) Hidrólise: é uma decomposição pela água, onde ocorre uma dupla troca com outros compostos. A hidrólise pode ser acelerada por exemplo por temperatura ou pressão alta.

B) Solvólise: os polímeros presentes na fabricação do PU são diluídos em solventes durante o processo de fabricação. Porém, o solvente tende a forçar sua própria evaporação entre os materiais, o que causa a agressão ao próprio laminado.


Essas duas reações não acontecem no laminado de PVC.


Desta forma, quando uma bolsa ou uma peça do vestuário começar a descascar, trata-se de um processo natural e esperado da matéria-prima utilizada e que comumente ocorre até cerca de 3 anos após a fabricação do laminado.



Acima, uma bolsa recebida em meu ateliê: Cliente gostaria de um "método" para tentar recuperar a parte azul, pois somente esta estava descascando. Após esclarecimento de que a mesma bolsa havia sido confeccionada com dois materiais muito diferentes (a parte estampada tratava-se de PVC e a azul de PU), cliente resolveu comprar uma bolsa nova do ateliê, confeccionada totalmente em PVC.


Tem como recuperar uma bolsa de PU descascando??

Com uma breve busca na internet, já nos deparamos com diversas receitas caseiras a respeito da recuperação de peças de PU que estão descascando.

Algumas delas envolvem a retirada total da camada plástica e posterior pintura da base com uma tinta. Outras, envolvem cuidados preventivos como evitar a exposição da peça a altas temperaturas e o seu correto armazenamento.

O fato é que as bolsas de PU são muito mais baratas que as confeccionadas em PVC pelo simples fato de que o valor dessas matérias-primas também é muito diferente.

Porém, as bolsas de PU são peças feitas para durar somente uma estação e sua degradação em um curto período é um processo natural do qual não há uma recuperação satisfatória do produto independente do que se tente fazer.

Desta forma, se você procura uma bolsa feita em material sintético, mas que tenha uma durabilidade maior, procure fornecedores que utilize PVC, para que você não tenha uma má surpresa num curto período de tempo.


Bibliografia:

MOMESSO, M. Confecção de bolsas de couro e sintético, São Paulo, SENAI Editora, 2016,

PVC. Acesso em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Policloreto_de_vinila

Vantagens dos laminados sintéticos. Acesso em: https://br.fashionnetwork.com/news/As-vantagens-dos-laminados-sinteticos,109126.html

Cartilha técnica: laminados sintéticos. Assintecal. Acesso em: https://issuu.com/assintecal6/docs/cartilha-laminados-sinteticos

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